A maior parte das costas marítimas
portuguesas estiveram até ao século XIX sujeitas ao avanço das areias que os
ventos arrastavam do litoral para o interior levando à formação de desertos de
dunas móveis e à consequente desertificação das terras do interior.
Dizem os historiadores que já D.
Dinis, ao incrementar o plantio do Pinhal do Rei, usualmente conhecido por
Pinhal de Leiria, teria tido como principal objectivo segurar as areias que os
ventos vinham arrastando para o interior. Porém, o certo é que só no início do
século XIX se começou a resolver tal problema, tendo os primeiros trabalhos
sido ainda realizados em finais do século XVIII, embora sem sucesso.
Para que se pudessem fazer as
sementeiras para fixação e arborização das dunas móveis foi preciso construir
primeiro um obstáculo que detivesse as areias transportadas pelo vento, de modo
a evitar o soterrar dessas sementeiras. Esse obstáculo veio a ser chamado duna primária e foi construído através da técnica do ripado móvel, se bem que
inicialmente também se tenham utilizado as primitivas paliçadas.
José Bonifácio de Andrada e Silva
orientou o início da fixação e arborização sistemática das dunas litorais no
começo do séc. XIX (1802) no Couto de Lavos, com coordenação dos trabalhos por
parte do Cabo dos Guardas do Pinhal de Leiria Manoel Afonso da Costa Barros.
Nas zonas a arborizar
posteriormente, já defendidas de novos areamentos pela duna primária,
espalharam-se sementes de plantas arenosas tais como as de estorno, madorneira,
tojo, giesta, camarinheira e sargaço. Mais tarde, para melhor fixação das
areias, procedeu-se à sua sementeira com penisco.
Para a sementeira abriram-se regos,
à enxada, paralelos à duna primária e distanciados 1,3 metros entre si. Depois
de adubados os regos com rapão (adubo natural do pinhal também designado por
manta morta ou humo), espalharam-se no seu interior as sementes que, por seu
turno, foram cobertas por uma pequena camada de areia. Em seguida, como forma
de protecção às sementeiras, espalhava-se mato para que a sementeira ficasse
coberta por ramaria e folhagem, sendo este depois parcialmente enterrado a fim
de melhor o fixar no lugar onde tinha sido colocado.
O mato utilizado na cobertura das
sementeiras era proveniente das matas de Foja e Pinhal do Urso, transportados
para o Pinhal do Rei por muares, carros de boi ou por via fluvial, onde esse
meio de transporte fosse viável.
A desertificação das costas
marítimas não era caso único na zona do Pinhal do Rei, era um problema nacional
e a sua resolução atravessou três séculos.
● Século XVIII
Realizados sem sucesso os primeiros
trabalhos no final do século.
● Século XIX
Primeiras sementeiras metódicas no
início do século.
Trabalhos regulares a partir de
meados do século.
Intensificação dos trabalhos no
final do século.
Florestados 3000 hectares de dunas
do litoral nacional.
● Século XX
Conclusão dos trabalhos de fixação
de dunas.
Florestados novos 34 000 hectares
de dunas do litoral nacional.
Por hectare eram necessárias: 22
carradas de mato, 15 kg de penisco, 5 Kg de sementes de plantas das areias, 4
carradas de mutano para sebes e 15 carradas de rapão.
Na arborização das Dunas foram
envolvidos vultuosos meios humanos, maioritariamente mulheres.
A conclusão dos trabalhos de
fixação de dunas móveis do litoral português deu-se apenas por volta de meados
do século XX.
Preparando os regos -
início do Séc. XX
Transporte de mato
por muares - início do Séc. XX
Transporte de mato em
carros de bois - início do Séc. XX
Espalhando o mato
- início do Séc. XX
Arborização na zona
de protecção - Ano de 1954
um dos maiores e mais meritosos trabalhos dos, defuntos e bem enterrados, Serviços Florestais
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