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O engenho de serrar madeira movido a energia eólica

             Existem referências de que já na segunda década do século XVIII existia na Marinha Grande a Fábrica da Madeira. De início esta fábrica laborava com recurso à serragem braçal das madeiras mas, em 1724, com a entrada em funcionamento de um engenho de serrar movido a vento, a sua laboração foi melhorada.
            Foi o Rei D. João V quem, por volta de 1723, tentando resolver o problema da serragem das madeiras, comprou e mandou instalar na Marinha Grande um engenho de serrar movido a vento. Totalmente construído em madeira por engenheiros holandeses, este inovador engenho de serrar foi montado onde é hoje o Parque Florestal do Engenho e, embora o seu funcionamento estivesse condicionado a vento certo e moderado, trabalhou cerca de 50 anos.
            O Marquês de Pombal, interessando-se pelo engenho e pela sua segurança, mandou murar todo o recinto e, em 1751, criou o Regimento para o Guarda Mor dos Pinhaes de Leiria e Superintendente da Fábrica da Madeira da Marinha. Este regimento pretendia dar ao Superintendente da Fábrica da Madeira “(…) a forma para o bom governo e arrecadação da Fazenda Real”. Para isso, entre outras coisas, manda “(…) extinguir inteiramente todas, e quaisquer serrarias de mão que haja no Pinhal, ou na Vieira (…)”, o que favorecia o controlo estatal desta actividade, centrando-a no engenho e na Fábrica da Madeira da Marinha. Esta decisão trouxe à Fazenda Real uma redução das despesas, mas para os serradores, que viram acabar os seus postos de trabalho, esta não foi, com certeza, uma boa decisão. No entanto, havendo necessidade de alguma madeira continuar a ser serrada manualmente, por não ser essa operação compatível com o serviço do engenho, o mesmo Regimento dizia: “(…) toda a madeira que for necessário serrar-se por serras de mão, por não abranger o serviço do Moinho, seja serrada dentro dos muros do Engenho, recomendando muito ao Superintendente que não consinta serras de mão em outra alguma parte (…)”.
          Por outro lado, acerca do funcionamento do próprio engenho, o mesmo Regimento dizia: “O Superintendente mandará serrar no Engenho toda a casta de madeiras, assim taboas de coberta como meudas, que corresponderem às bitolas das serras do mesmo Engenho, mandando aproveitar os páos, que se acharem cahidos, e espalhados pelo Pinhal, e os que crião cogumelo, e bicadas dos cortes, que se fizerem; Terá particular cuidado, que o Engenho não esteja parado por omissão, ou descuido dos Officiaes, e lhe ordenará o façam trabalhar não só de dia, mas também de noite, quando fizer vento certo, e não houver tormenta (...)”
             Devido a deficiências no seu mecanismo, este engenho foi destruído em 1774 por um incêndio provocado pelo atrito e nunca mais foi reconstruído.
              Acerca deste engenho e do incêndio que o destruiu, o Visconde de Balsemão, na Memoria sobre a descrição física, e económica do lugar da Marinha Grande, e suas vizinhanças, diz, em 1815: “Para a serragem da madeira havia n’outro tempo (além dos Serradores) três Engenhos, que pela sua má construção pouco, ou nenhum proveito davam à Fazenda Real. Hum destes era de vento; porém o seu mechanismo estava tão mal calculado, que além de não poder trabalhar senão com hum só vento, tinha hum tão grande atrito, que se incendiou por si mesmo.”.
             Foi devido à existência deste engenho naquele lugar que, ao seu redor, foi nascendo um pequeno povoado que ficou conhecido como: “O Lugar do Engenho”.
              Nos dias de hoje, o Engenho é um importante lugar da Freguesia e Concelho da Marinha Grande. O topónimo “Engenho” dá também o nome ao parque florestal onde existiu tal engenho, a uma rua contigua ao parque e ao largo que lhe fica em frente.

O Regimento de 1751

Placa assinalando o Largo do Engenho

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