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As Tercenas

            O lugar hoje conhecido na Praia da Vieira como Tercenas, parece derivar do antigo termo "taracenas", estaleiros ou armazéns. A construção de tercenas na Praia da Vieira vem da necessidade de escoamento da madeira e outros produtos do Pinhal do Rei em finais do séc. XVIII e início do séc. XIX, dado que os portos de S. Martinho do Porto e Pederneira, em virtude do assoreamento, se encontravam limitados na sua normal operacionalidade.
            Em finais do século XVIII e início do século XIX, na foz do Rio Lis na Praia da Vieira, realizaram-se trabalhos para regularizar a foz e o leito do rio, tendo em vista um melhor aproveitamento agrícola dos campos para benefício da Casa do Infantado e dos cultivadores. Estas obras viriam simultaneamente restabelecer a navegabilidade na foz do Lis.
            Com estes melhoramentos na Foz do Lis e dada a situação do porto de S. Pedro de Moel, também ele prejudicado com os constantes desgastes provocados pelo avanço do mar e pelo grande incêndio que, em 1824, destruiu uma imensa área florestal à volta de S. Pedro de Moel, D. João VI publicou, ainda em 1824, o “Regulamento Geral da Fazenda da Marinha”, no qual determinava que o embarque de madeiras do Pinhal de Leiria se fizesse na Foz do Rio Lis, onde houve que construir armazéns (tercenas) para armazenamento de madeiras, penisco, resina, pez e outros materiais a embarcar.
            Em 1862, o movimento de embarcações que vinham carregar madeiras na foz do Liz era de 75; mais tarde, com o rio novamente assoreado, o movimento foi desaparecendo e, em 1870, já só carregavam na costa, sendo o número de barcos à volta de 36 por ano; em 1890 este número era apenas 2.
            Desapareceu, assim, o embarque de produtos do Pinhal do Rei na foz do Liz.
            Em 1840, mesmo junto às Tercenas, no sítio do Caes, foi fundada uma fábrica de vidro que na altura produzia apenas vidraça e cuja laboração se sabe que durou apenas 5 anos.
            Foi também nas Tercenas, em 1859, que os Serviços Florestais utilizaram pela primeira vez um engenho de serrar a vapor. A máquina foi montada no grande armazém de madeiras, mas, mais tarde, verificou-se que essa máquina não resolvia como se previra o problema da serragem das madeiras, desconhecendo-se por quanto tempo laborou esta serração.
            Também na foz do Rio Lis, aproveitando a proximidade do Pinhal, existiu no século XIX um estaleiro de construção naval, propriedade do Eng. Manuel Luiz dos Santos. Este estaleiro, instalado no “Caes Velho”, começou a laborar por volta de 1840, desconhecendo-se ao certo as datas de início de laboração e de encerramento de actividade. Sabe-se apenas que, a meio da década de sessenta (séc. XIX), já não existia o estaleiro do Cais. A construção naval mudou-se para as Tercenas funcionando, junto aos armazéns, em telheiros onde se faziam os saveiros e outros pequenos navios. Mais tarde, devido ao assoreamento, o movimento no rio viria a desaparecer e a construção naval passaria a fazer-se na praia, junto à foz. As construções navais na Praia da Vieira viriam a diminuir em número e dimensão, desaparecendo por volta de 1899.
            Os barracões das Tercenas continuaram provavelmente a ser utilizados como armazéns até ao ano de 1941, sendo depois transferidos para a Serraria, em Vieira de Leiria, junto do edifício da extinta 14ª Administração Florestal. Em 1976 foram aproveitados pela Câmara Municipal da Marinha Grande para instalar o mercado de Vieira de Leiria. Recentemente com a inauguração do novo mercado desapareceram definitivamente.

Depósito e serração de madeiras nas Tercenas - Início do séc. XX

As Tercenas - anos 30 do séc. XX

Comentários

  1. Muito interessantes estes registos! Gosto muito de história dos locais (e não só).

    Obrigada.

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    Respostas
    1. Eu é que agradeço as suas visitas e comentários.
      Obrigado Graça Sampaio.

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  2. Embora passem 9 anos após a publicação, posso acrescentar que através dos livros de passaportes da câmara de vila do conde, em 18 de outubro de 1836, saem desta vila 12 carpinteiros de machado com destino a Vieira, vão no seu ofício, portanto há atividade de construção naval de embarcações de porte considerável em Vieira e Vila do Conde terá contribuido para tal.
    António Carmo

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